MAURO BRANDÃO, mineiro de Caeté, escritor, poeta e músico, é Bacharel em Ciências Econômicas pela U

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

magia da montanha...



CAPÍTULO 45 - Claraluz e o Poeta (Pág. 305)

Era uma sexta-feira sombria. Sabará amanhecera com aquela típica neblina encobrindo toda a cidade, e aquele cenário assaltava a psique dos sabarenses, remetendo-lhes aos ares da incerteza e da insegurança que outrora reinaram sob o chicote da cobiça, do encalço inescrupuloso, desumano, violento e escravocrata ao ouro, o vil metal precioso, dotado dos superpoderes emanado-lhes pelos séculos 18 e 19, causador de inúmeras guerras, mortes atrozes, e que servia como referência de valor monetário para o comércio internacional, recheando as divisas das nações que o possuíam em abundância, por posse, conquista ou roubo.

No alto da Serra da Piedade, o monte determinante da essência de Sabará, Caeté, dentre outras cidades, aquela velhinha, depois de catar lenha, sorvia-se do privilégio de estar no cume daquela majestosa e imponente montanha, vislumbrando e deslumbrando-se com um dos maiores espetáculos visuais exibidos fortuita e gratuitamente pelos pincéis da natureza, emanando a graça e a beleza, e induzindo aquele idoso e ruguento espírito, testemunha daquela cena aleatoriamente dinâmica, à contemplação e ao êxtase.

Na visão do alto, um mar de nuvens brancamente algodoadas até sumir no horizonte, o mar das Minas, que diluviava por toda a fatia do semicírculo que os olhos alcançavam. Aquela instantânea cena contrastava cores e estabelecia fronteiras: acima, a abóboda azul, vigorosa, que assistia o caminhar lento e progressivamente energético da nossa estrela-mãe. O sol rasgando o céu azul, a lente do infinito formada pela mistura de gases que compõem a nossa atmosfera, o ar da vida, produzindo aquela cor tão transcendente.

Abaixo, o montanhoso naco do mineiro mundo, incógnito, encoberto por intermináveis massas de nuvens, densas e opacas. Inúmeras marolinhas de nuvens escoradas seguravam a luz daquele sol muito jovem, mas já vigoroso das seis e quarenta da manhã, que tentava, ainda em vão, furar o bloqueio daquelas resistentes nuvens, a fim de penetrá-las com virilidade, até jorrar a sua luz e o seu calor no ventre de Gaia, sêmens de toda a vida terráquea.

Neste teatro cinzento, o espírito bandeirante de Borba Gato, emergido sob a lama do fundo do Rio das Velhas, rondava solto por aquelas ruelas do arraial velho de Sabarabuçu, da grande pedra de esmeralda, com banhos de prata. Os espíritos sabarenses transitavam, velada e matreiramente, pela aventura emboaba, perseguindo o ideal inconfidente, que fundiu, com o ferro e o ouro transmutado em sangue – o negro sangue derramado nos chicotes e pelourinhos –, o sangue que corria nas veias de queijo e café: a alma mineira!...

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(Início do Capítulo 45 de Claraluz e o Poeta)
(Foto obtida na página RickClick -https://www.facebook.com/rickclickfotografia de Henrique Caetano)

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